Razão cintura-estatura e risco cardiometabólico em crianças

Postado em 11 de abril de 2022

IMC é apresentado como parâmetro útil, mas não apresenta especificidade, dificultando a prevenção no cuidado nutricional

Entre as medidas e fórmulas utilizadas na avaliação do peso de um indivíduo, o IMC é uma das mais rápidas e fáceis de ser aplicada. No entanto, é preciso considerar que apesar da praticidade, esse dado não difere gordura de massa magra, e se utilizado sozinho, pode levar a um diagnóstico incoerente de sobrepeso ou obesidade em indivíduos saudáveis.

A circunferência da cintura, por sua vez, é um parâmetro de avaliação que permite um diagnóstico mais preciso do acúmulo de gordura visceral, a qual tem sido associada em inúmeros estudos como fator de predisposição a riscos cardiovasculares em crianças e adultos. Isso porque, uma circunferência de cintura elevada indica hipertrofia de células adiposas subcutâneas, o que aumenta o risco de desenvolver distúrbios metabólicos e doenças cardiovasculares.

Diferente dos adultos, não há uma faixa de valores definidos para uma circunferência de cintura elevada em crianças. Nesse público, é preciso utilizar percentis específicos para idade, sexo e etnia, ou escores Z.

Nesse contexto, outro método de avaliação que utiliza a circunferência de cintura, é a razão cintura-estatura que considera a massa de gordura abdominal em relação ao comprimento do corpo. Para esse parâmetro, na população pediátrica, estudos apresentaram que uma razão > 0,50 esteve relacionada a alterações cardiovasculares e em crianças com peso normal, essa razão indicava um perfil metabólico menos favorável.

Considerando a limitação de informações sobre a utilidade desse parâmetro no diagnóstico de obesidade infantil, um estudo comparou a especificidade e a capacidade preditiva de risco cardiometabólico das razões cintura-estatura (RCE) > 90° percentil, RCE ≥ 0,50,RCE  ≥ 0,55 e escore Z de IMC ≥ 2.

método de avalição do peso em crianças

Como a pesquisa foi desenvolvida

Para fazer essa comparação, foram avaliados os dados de 654 crianças de 5 países europeus que participaram de um estudo de obesidade infantil que as acompanhou das primeiras oito semanas de vida até os 11 anos de idade.

Utilizando os dados obtidos nessa pesquisa anterior, o estudo sobre razão cintura-estatura, recolheu as informações antropométricas, de pressão arterial e das amostras de sangue das crianças quando estas tinham 5, 8 e 11 anos.

Diferentes razões cintura-estatura, diferentes resultados

Partindo de todos os critérios de comparação, os pesquisadores relataram que 3,1 – 22 % das crianças tinham obesidade aos 5 anos, 5,3 – 30,6% aos 8 e 7,7 – 41,3% aos 11 anos. Um total de 75% das crianças com RCE ≥ 0,55 aos 5 anos de idade e 69,6% aos 8 anos também estavam acima desse corte aos 11 anos de idade.

Além disso, os quatro critérios de avaliação também previram valores piores de resistência à insulina e pressão arterial sistólica na maioria das idades. Entretanto, comparado ao (RCE) > 90° percentil, RCE ≥ 0,50 e ao escore Z de IMC ≥ 2, o RCE ≥ 0,55 previu valores mais elevados para triglicerídeos e resistência à insulina nas crianças.

Aos 5 anos de idade, as crianças classificadas como tendo um RCE ≥ 0,55 apresentaram níveis de triglicerídeos e pressão arterial sistólica mais elevados do que as crianças classificadas com um RCE ≥ 0,50 e um RCE ≥ 90° percentil. Aos 8 anos de idade, as crianças classificadas como tendo um RCE ≥ 0,55 apresentaram maior resistência à insulina e pressão arterial sistólica do que aquelas classificadas como tendo um RCE ≥ 90° percentil.

Por fim, aos 11 anos de idade, as crianças classificadas no grupo escore Z de IMC ≥ 2 apresentaram maior resistência à insulina em comparação com as crianças do grupo RCE ≥ 90° percentil, enquanto as crianças do grupo RCE ≥ 0,55 apresentaram maior resistência à insulina do que as crianças do grupo RCE ≥ 90° percentil.

O corte RCE ≥ 0,55 também apresentou maior capacidade preditiva de risco cardiometabólico (82%) ao ser comparado ao escore Z de IMC ≥ 2 (55 %), RCE ≥ 90° percentil (36%) e ao RCE ≥ 0,50 (41%)

Conclusões

Com os resultados dessas comparações, a pesquisa revelou que o IMC e a razão cintura-estatura são úteis para avaliar predisposição à síndrome metabólica e risco cardiovascular em crianças de 5 a 11 anos. Porém, o corte de razão cintura-estatura ≥ 0,55 apresentou-se como mais apropriado para fazer a triagem de crianças com obesidade e risco cardiometabólico.

Referência

Judit Muñoz-Hernando, Joaquin Escribano, Natalia Ferré, Ricardo Closa-Monasterolo, Veit Grote, Berthold Koletzko, Dariusz Gruszfeld, Alice ReDionigi, Elvira Verduci, Annick Xhonneux, Veronica Luque, Usefulness of the waist-to-height ratio for predicting cardiometabolic risk in children and its suggested boundary values, Clinical Nutrition, Volume 41, Issue 2, 2022, Pages 508-516, ISSN 0261-5614, https://doi.org/10.1016/j.clnu.2021.12.008.

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