Melatonina e perda de peso: existe relação?

Postado em 30 de novembro de 2022 | Autor: Redação Nutritotal

Regulação do tecido adiposo e melhora da resistência insulínica, promovidos pela melatonina, podem auxiliar no emagrecimento.

Em indivíduos com sobrepeso ou obesidade, diversas estratégias de tratamento são discutidas dia após dia. Recentemente, a relação entre a melatonina e a perda de peso vêm sendo um alvo das pesquisas científicas. Dado que a melatonina é um potencial regulador do metabolismo energético, sugere-se que o hormônio exerça um papel importante no emagrecimento. Vamos entender em mais detalhes?

Melatonina perda de peso

Melatonina: o que é?

A melatonina é um hormônio endógeno indolaminérgico, sintetizado a partir do triptofano, e derivado da serotonina.

Conhecida como “hormônio do sono”, a produção de melatonina acontece na glândula pineal, em um processo estritamente controlado pelo ciclo de iluminação ambiental. Em outras palavras, o pico de sua síntese ocorre no período noturno, na ausência de luz.

Essa característica atribui à melatonina funções fisiológicas extremamente importantes: seu principal efeito é a sincronização do ciclo circadiano, do sono e da vigília, dos quais surgem seu uso bem estabelecido na clínica médica para o tratamento de distúrbios do sono.

No entanto, seja por ação direta ou através de seus receptores, a melatonina também apresenta papéis essenciais em outras funções corporais, tal como no metabolismo energético. Essa participação é um dos mecanismos de intersecção entre a melatonina e a perda de peso, como veremos adiante.

A melatonina faz perder peso?

Sim. Segunda a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a melatonina pode ser vista como um fator hormonal antiobesogênico, pois diversas evidências comprovam sua ação reguladora nas etapas do balanço energético, como controle da fome, acúmulo de gordura e consumo de calorias.

No entanto, é necessário atenção: em uma revisão científica que analisou pesquisas sobre o uso da melatonina na obesidade, constatou-se que os dados clínicos ainda são insuficientes, e os dados pré-clínicos nem sempre demonstram evidências favoráveis.

Sendo assim, a suplementação exógena deve ser tratada com cautela, e a principal estratégia deve ser a regulação natural do ciclo circadiano daqueles que desejam perder peso.

Leia mais em: Melatonina: para quem posso indicar?

Por que a melatonina emagrece?

A seguir, você irá entender os mecanismos que promovem a perda de peso através da ação da melatonina.

Regulação do tecido adiposo

A obesidade é caracterizada por grave disfunção do tecido adiposo branco, o subtipo com melhor capacidade de armazenar o excesso lipídico/calórico. Já foi relatado que a melatonina pode regular o tecido adiposo e as adipocinas, por meio de mecanismos como:

  • Lipólise de adipócitos;
  • Crescimento do tecido adiposo marrom (com maior capacidade de queimar o excesso calórico);
  • “Escurecimento” do tecido adiposo branco;
  • Aumento da capacidade de respiração celular;
  • Redução da adipogênese.

Em conjunto, todos esses processos contribuem para o aumento do gasto energético, auxiliando na perda de peso.

Além disso, a melatonina também contribui para normalizar os padrões de expressão e secreção das duas adipocinas relacionadas à patogênese da obesidade: a leptina (hormônio da saciedade) e a adiponectina (anti-inflamatório e combate à resistência insulínica).

Melhora da resistência à insulina

O quadro de resistência insulínica na obesidade não é novidade. Basicamente, com o alto consumo alimentar, a sobrecarga de glicose e lipídios levam a uma maior ativação de células beta pancreáticas produtoras de insulina. Com o tempo, este excesso de insulina circulante para de fazer efeito, e a glicose para de ser incorporada pelas células, sendo convertida em gordura para fins de armazenamento. Em outras palavras, a resistência à insulina promove o acúmulo de gordura visceral.

Leia mais em: O que é e como se desenvolve resistência à insulina?

O papel da melatonina no combate à resistência à insulina já foi abordado pela ciência. A melatonina possui um efeito inibitório na secreção de insulina; portanto, se estiver em falta no organismo, a hiperinsulinemia não é combatida apropriadamente, e o ganho de peso persiste.

Controle circadiano do metabolismo

Distúrbios circadianos, causados por fatores como exposição noturna à luz ou mudanças na dieta, podem afetar o equilíbrio energético e aumentar o risco de ganho de peso.

Conhecida pelo seu papel sincronizador do ritmo circadiano, a melatonina é um fator chave para o funcionamento correto do metabolismo energético, incluindo a sincronização do ciclo de alimentação em repouso ou jejum.

Uma das funções essenciais da melatonina na organização circadiana é preparar e modificar os tecidos metabólicos centrais e periféricos para responder a hormônios como glicocorticóides, hormônio do crescimento e catecolaminas, além da melhora na sensibilidade à insulina como descrito anteriormente.

Essa regulação do metabolismo energético promove o funcionamento correto das vias de armazenamento ou queima de energia, contribuindo para a manutenção adequada do peso.

Melhora da inflamação e do estresse oxidativo

A obesidade é uma doença metabólica caracterizada por inflamação crônica de baixo grau. Como agente anti-inflamatório, a melatonina atenua a resposta inflamatória no cérebro e tecidos periféricos em pacientes com excesso de peso. Isso se dá principalmente devido ao seu papel na regulação positiva de citocinas anti-inflamatórias e regulação negativa de citocinas pró-inflamatórias (como IL-6, MCP-1 e TNF-α).

Além disso, tais citocinas pró-inflamatórias produzem espécies reativas de oxigênio (EROS), que desempenham um papel crucial no ganho de peso. Portanto, com múltiplas funções antioxidantes, a melatonina previne esse acúmulo de massa corporal.

Melhora da disbiose intestinal

Na literatura científica, a melatonina vem sendo apontada por melhorar a disbiose da microbiota intestinal. Mais especificamente, este hormônio pode promover:

  • Melhora dos ritmos da microbiota, promovendo o efluxo de lipídios do intestino;
  • Diminuição na proporção de Firmicutes para Bacteroidetes;
  • Aumento na abundância relativa de Akkermansia;
  • Normalização da riqueza e diversidade de Alistipes, Anaerotruncus e Desulfovibrionaceae.

Assim, a ligação entre a melatonina e a microbiota pode auxiliar na perda de peso.

Veja mais em: Ligações entre o microbioma intestinal e a obesidade

O que é bom para aumentar a melatonina?

Uma vez estabelecida a relação entre a melatonina e a perda de peso, é necessário entender como estimular sua produção de modo natural. Para isso, algumas dicas são:

  1. Incluir alimentos ricos de triptofano na dieta (como queijo e oleaginosas);
  2. Consumir alimentos que contêm melatonina (como tomate, arroz e nozes);
  3. Estabelecer horários condizentes para cada refeição;
  4. Fazer exercícios físicos durante o dia;
  5. Expor-se à luz solar;
  6. Limitar a luz artificial antes de dormir.

A suplementação de melatonina só deve ser considerada quando o tratamento natural for insuficiente.

Conclusão

No processo de perda de peso, a produção adequada de melatonina é crucial. Indiretamente, esse hormônio participa de diversos processos fisiológicos que previnem o ganho de peso, e, portanto, são auxiliares no emagrecimento.

No entanto, profissionais de saúde devem ter cuidado ao prescrever a suplementação indiscriminada de melatonina, uma vez que seu uso exógeno não é tão bem estabelecido clinicamente. Como alternativa, a regulação natural deste hormônio através de simples mudanças de estilo de vida devem ser a via preferencial.

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Melatonina

Referências

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FU, Zhuo; R GILBERT, Elizabeth; LIU, Dongmin. Regulation of insulin synthesis and secretion and pancreatic Beta-cell dysfunction in diabetes. Current diabetes reviews, v. 9, n. 1, p. 25-53, 2013.

GUAN, Qingyun et al. Mechanisms of Melatonin in Obesity: A Review. International Journal of Molecular Sciences, v. 23, n. 1, p. 218, 2021.

MARQUEZE, Elaine C. et al. Exogenous melatonin decreases circadian misalignment and body weight among early types. Journal of Pineal Research, v. 71, n. 2, p. e12750, 2021.

PEUHKURI, Katri; SIHVOLA, Nora; KORPELA, Riitta. Dietary factors and fluctuating levels of melatonin. Food & nutrition research, v. 56, n. 1, p. 17252, 2012.

Posicionamento da SBEM sobre a melatonina. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. AMB – Associação Médica Brasileira.

 

 

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