Planejar as refeições e comer com atenção são práticas que ajudam a manter uma dieta saudável.
O ato de se alimentar engloba diversas esferas da vida humana. Cada vez mais, as pesquisas mostram que, para além do quê se come, também é importante estar atento em “como”, “quando” e “onde” se come. Tudo isso faz parte da qualidade de uma dieta.
Entretanto, embora as boas práticas de comensalidade tragam benefícios como prazer e sustentabilidade, será que elas realmente melhoram a qualidade da alimentação — ou seja, a ingestão de alimentos saudáveis e limitação daqueles com baixo valor nutricional?
Fonte: Canva.com
Um novo estudo realizado na USP mostrou que sim. A seguir, entenda os detalhes dessa investigação, e quais são as estratégias que melhoram a qualidade da dieta, segundo os pesquisadores.
Mais de 2.000 pessoas participaram da pesquisa
O estudo foi conduzido pelo NUPENS-USP, Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo.
Tratou-se de uma análise transversal, realizada com uma subamostra da pesquisa NutriNet-Brasil. Ao todo, 2.052 indivíduos adultos participaram da investigação, preenchendo questionários online periodicamente.
O principal objetivo do estudo foi investigar se as orientações alimentares qualitativas do Guia Alimentar para a População Brasileira refletiam-se, na prática, em uma melhora na qualidade da dieta. Para isso, os participantes preencheram a Escala Brasil de Práticas Alimentares, além de recordatórios alimentares.
Por fim, a qualidade da dieta foi avaliada segundo o consumo de três categoriais alimentares:
- “Comer mais”: frutas, verduras e legumes, feijão e outras leguminosas, grãos integrais e nozes;
- “Limitar”: carne vermelha, açúcar de mesa, alimentos processados;
- “Evitar”: alimentos ultraprocessados.
Boas práticas alimentares melhoram a qualidade da dieta
Após a análise dos questionários, houve uma associação positiva entre as estratégias recomendadas pelo Guia Alimentar, e a maior qualidade da dieta. Em outras palavras, participantes com boas práticas realmente comiam alimentos mais nutritivos, e evitavam alimentos prejudiciais.
Mas afinal, quais estratégias são essas?
As boas práticas alimentares seguidas pelos participantes foram:
1) Planejamento: planejar refeições, fazer compras em comércios que oferecem opções saudáveis e sustentáveis.
2) Organização doméstica: compartilhar as tarefas que envolvem o consumo alimentar entre os moradores da casa, como planejar, comprar, preparar e limpar.
3) Modos de comer: comer de forma consciente, sem distrações, em ambientes limpos e apropriados, em horários similares.
4) Escolha alimentar: não substituir refeições completas por sanduíches, lanches ou snacks no almoço e no jantar.
Se, por um lado, tais práticas melhoram a qualidade da dieta, outros hábitos podem ter o efeito contrário. É o caso de comprar em lojas de convenicẽncia, comer com pressa, pular o café da manhã, e não possuir habilidades culinárias.
Houve algumas exceções
Para toda regra há uma exceção, e nesse caso não foi diferente. Mesmo com bons hábitos de comensalidade, nenhum impacto foi notado na ingestão de carne vermelha (um dos alimentos “a limitar”).
Segundo os autores, esse resultado pode ser por conta do padrão alimentar tradicional brasileiro, composto pela típica combinação de arroz, feijão e carne.
Em seguida, a prática de “organização doméstica” também não afetou a ingestão de feijão, alimentos processados e açúcar de mesa. Para os autores, isso mostra que uma alimentação saudável não depende de práticas isoladas, mas sim do conjunto de práticas. Além disso, a ausência de uma boa prática pode ser compensada pela presença de outra.
Considerações finais
Em resumo, práticas como compartilhar tarefas e não substituir refeições têm um grande potencial em melhorar a qualidade da dieta. Mais especificamente, aumentam o consumo de grupos alimentares saudáveis, enquanto diminuem o consumo de alimentos prejudiciais.
Sabendo disso, os esforços públicos devem ser direcionados a facilitar a adoção de tais práticas por parte da população. Aumento do acesso à feiras livres, rótulos mais claros, e melhor distribuição econômica são alguns exemplos.
Para ler o artigo completo, clique aqui.
Se você gostou desse artigo, leia também:
- Protocolos de uso do Guia Alimentar para a população brasileira
- Comportamento alimentar: o que mudou após a pandemia?
- Saúde mental e alimentação: qual é a relação?
Referência:
GABE, Kamila Tiemann et al. Is the adherence to the food practices recommended by the dietary guidelines for the Brazilian population associated with diet quality? Appetite, v. 190, p. 107011, 2023.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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