Apetite na infância: como se desenvolve

Postado em 16 de junho de 2022

Na infância, o apetite é modulado por fatores biológicos e ambientais, que possuem diferentes graus de influência conforme as fases de desenvolvimento da criança

Você já se perguntou o porquê de algumas crianças se mostrarem com mais apetite pela comida e nunca se sentirem saciadas, enquanto outras manifestam pouco ou nenhum interesse em suas refeições, raramente finalizando-as inteiramente?

apetite, infância

Fonte: Shutterstock

A resposta para essa questão pode estar no que se denomina “comportamentos de apetite”, ou seja, uma combinação de fatores que influenciam as escolhas alimentares na infância. A seguir, você irá entender como o apetite se desenvolve nas diferentes fases da infância, e como moldá-lo na busca por uma alimentação mais saudável.

Como o apetite infantil se desenvolve?

Os comportamentos de apetite são manifestados a partir da interação entre fatores biológicos e fatores ambientais.

Fatores biológicos incluem sexo do bebê, predisposição genética, estado nutricional e peso ao nascer, aleitamento, e peso dos pais. Já nos fatores ambientais, estão contidos os níveis socioeconômicos e escolaridade da família, o ambiente alimentar familiar e escolar, a exposição a meios de comunicação, a cultura e a interação com a comunidade, entre outros.

Nas diferentes fases de desenvolvimento da criança, estes fatores possuem mais ou menos influência. Entenda abaixo os principais elementos que moldam o apetite infantil no período intrauterino, durante o aleitamento e após a introdução alimentar.

1. No período intrauterino

Os primeiros 1000 dias de vida, período desde a concepção até os 2 anos de idade, são considerados críticos para o desenvolvimento do apetite e dos comportamentos alimentares manifestados na infância. Especificamente, o período de desenvolvimento intrauterino parece ter um importante papel neste sentido.

Durante a gravidez, uma alimentação inadequada por parte da mãe pode ter impactos negativos no crescimento e desenvolvimento fetal, influenciando o peso dos recém-nascidos e seus mecanismos biológicos de regulação do apetite. Portanto, bebês que nascem com alto ou baixo peso parecem ter um maior risco de desenvolver determinadas doenças ao longo da vida, incluindo a obesidade.

Além disso, o feto tem as suas primeiras experiências de sabor através do líquido amniótico, influenciado pela alimentação da mãe. Esta exposição, ainda no útero, propicia a aceitação de alimentos com um perfil de sabor semelhante durante a infância. Assim, se a alimentação da mãe durante a gravidez conter altos níveis de açúcar, há uma grande probabilidade de que a criança cresça com a tendência de preferir alimentos doces.

2. Na fase de aleitamento

Em relação à fase de aleitamento, a composição do leite materno parece ser benéfica para promover uma regulação do apetite adequada. Assim como acontece com o líquido amniótico, o leite materno pode refletir alguns sabores da alimentação da mãe e promover a aceitação de determinados alimentos pela criança.

Contudo, o uso de mamadeiras pode promover uma ingestão de leite excessiva, quando os pais forçam o bebê a ingerir todo o conteúdo mesmo que haja recusa. Por outro lado, quando o leite é fornecido diretamente da mama, é o bebê que controla a quantidade consumida, o que também beneficia a adequada regulação do apetite.

3. Na introdução alimentar

A fase de introdução alimentar é um período chave para a formação de preferências alimentares e controle do apetite. Os bebês já nascem com uma predisposição para aceitar o sabor doce (uma vez que o leite materno é doce), podendo rejeitar o sabor amargo/azedo dos novos alimentos.

Por isso, estratégias de diversificação alimentar são necessárias nesta fase, expondo as crianças repetidamente ao sabor de determinados alimentos. Os pais também devem servir como exemplo de uma alimentação variada e saudável.

Com o crescimento da criança, é necessário que a sua alimentação seja acompanhada de perto para evitar um apetite descontrolado, uma vez que o excesso peso infantil propicia um maior risco cardiometabólico (hipertensão arterial, níveis elevados de colesterol e glicemia) e resistência precoce à leptina (dificultando a perda de peso na vida adulta).

Recomendações para a formação de um apetite infantil adequado

Tendo em vista as considerações anteriores, é fundamental que profissionais de saúde estejam preparados para orientar os familiares no desenvolvimento de um apetite adequado na infância, evitando problemas futuros.

Neste contexto, as principais recomendações são:

  • Alimentação materna saudável e adequada durante a gravidez e o aleitamento;
  • Aleitamento através da mama, sempre que possível;
  • Diversificação alimentar a partir dos 6 meses;
  • Respeitar os sinais de fome e saciedade do infante;
  • Ofertas repetidas de alimentos saudáveis, mas sem forçá-las à comer;
  • Horários de refeições pré definidos;
  • Evitar a oferta de alimentos menos saudáveis, calóricos e ultra processados;
  • Pais e cuidadores devem servir de exemplo;
  • Evitar comentários negativos e de julgamentos em relação ao peso corporal;
  • Respeitar o número de horas necessárias para o sono de criança;
  • Pais e cuidadores devem encontrar maneiras divertidas de se exercitar e passar tempo ativo com a criança;
  • Se necessário, a gestão de peso deve ser feita juntamente à profissionais de saúde.

 

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Referência:

OLIVEIRA, Andreia et al. Apetite na infância: como se desenvolve e como se pode moldar. Estratégias orientadoras para pais e cuidadores. Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Portugal, 2020.

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