Quimioterapia pode piorar a composição corporal de mulheres com câncer?

Postado em 19 de junho de 2023

O impacto da quimioterapia na composição corporal de mulheres com câncer de mama varia de acordo com o regime de tratamento.

O câncer de mama é uma das doenças mais comuns entre as mulheres em todo o mundo, e no Brasil, em 2022, houve incidência de 11,84 casos a cada 100.000 mulheres, embora a detecção precoce e os avanços no tratamento tenham contribuído para a redução dessa taxa.

O tratamento para câncer de mama considera fatores como subtipos moleculares, estágios do câncer, preferências pessoais, status da menopausa e saúde geral da paciente, podendo ser divididos em modalidades locais (como cirurgia e radioterapia), ou sistêmicas, (como quimioterapia, terapia endócrina e terapia biológica).

Embora estudos tenham demonstrado a eficácia da quimioterapia no tratamento do câncer de mama, efeitos colaterais a curto e longo prazo são inevitáveis.

Evidências sugerem que o tipo de medicamentos e tratamento na quimioterapia afeta negativamente os parâmetros antropométricos e de composição corporal, resultando em aumento do peso corporal, índice de massa corporal (IMC) e adiposidade central, além de redução da massa magra.

Este estudo busca evidenciar os efeitos da quimioterapia nos parâmetros antropométricos e de composição corporal de mulheres com câncer de mama.

quimioterapia composição corporal

Foto: shutterstock.com

Coleta de dados

Este foi um estudo retrospectivo multicêntrico que envolveu seis estados do Brasil. Foram incluídas mulheres com câncer de mama primário que receberam quimioterapia e não tinham histórico prévio de câncer de mama ou outros tipos de câncer. Os dados foram coletados entre 2004 e 2018, com um acompanhamento médio de quatro a seis meses.

Os pesquisadores coletaram informações sobre o tratamento de quimioterapia, características do tumor, dados antropométricos (de acordo com os procedimentos de Habicht) e de composição corporal.

Além disso, foram registrados dados demográficos, comportamentais e de estilo de vida, como idade, estado civil, consumo de álcool, tabagismo e atividade física.

Modelo Misto Geral (MMG) para verificar o efeito dos regimes de quimioterapia

Para análise da amostra, levou-se em consideração o efeito da quimioterapia na porcentagem de gordura corporal total.

O Modelo Misto Geral (MMG) ajustado pela idade foi utilizado para verificar o efeito dos regimes de quimioterapia (pré-quimioterapia × pós-quimioterapia) e a interação entre o regime e o tempo nas variáveis investigadas.

Redução no excesso de gordura abdominal e aumento no IMC após o tratamento

Neste estudo, foram avaliadas 304 mulheres com uma média de 51 anos. A maioria delas com carcinoma ductal invasivo, estágio II, subtipo luminal e estava recebendo o regime ACT (antraciclina e taxano combinados).

A grande maioria das participantes foram classificadas como fisicamente inativas, não fumantes e não consumiam álcool. Foi observado sobrepeso no maior número de participantes antes e após o tratamento, e quase 31% delas apresentaram risco elevado de complicações metabólicas após a quimioterapia.

Houve uma redução no excesso de gordura abdominal após a quimioterapia, mas não foram observadas mudanças significativas nas medidas antropométricas de obesidade central.

No entanto, houve um aumento significativo no IMC após a quimioterapia, que variou de acordo com o tempo de tratamento, além do índice de massa de gordura, influenciado pelo tempo e tipo de regime e no índice de massa livre de gordura, relacionado ao tipo de regime utilizado.

A quimioterapia afeta o IMC e o índice de massa de gordura

Em conclusão, este estudo demonstrou que a quimioterapia afeta o IMC e o índice de massa de gordura, resultando em um aumento desses parâmetros após o tratamento.

Os resultados também indicaram que o impacto da quimioterapia na composição corporal varia de acordo com o regime de tratamento utilizado.

É importante ressaltar que a maioria das pacientes avaliadas apresentava sobrepeso, o que está em linha com a alta prevalência de mulheres com sobrepeso na população brasileira e o maior risco de câncer de mama associado a essa condição.

Embora alguns estudos anteriores não tenham encontrado uma associação entre ganho de peso pré e pós-quimioterapia, evidências mostram um aumento significativo de peso durante a quimioterapia, especialmente em mulheres tratadas com o regime CMF (ciclofosfamida, metotrexato, fluorouracil).

Esses achados fornecem informações valiosas para os profissionais de saúde, destacando a importância de ajustar a dieta e a atividade física para lidar com as mudanças na composição corporal causadas pela quimioterapia em pacientes com câncer de mama. É crucial considerar essas alterações e monitorar esses aspectos durante e após o tratamento.

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Referência:

Godinho-Mota, J.C.M.; Vaz-Gonçalves, L.; Dias Custódio, I.D.; et al. Impact of Chemotherapy Regimens on Body Composition of Breast Cancer Women: A Multicenter Study across Four Brazilian Regions. Nutrients 2023, 15, 1689.

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