Dieta e Infecções Respiratórias: existe associação?

Postado em 23 de maio de 2022

Peixes gordurosos e frutas apresentaram resultados importantes na proteção contra doenças respiratórias

Já é conhecido que a nutrição e a dieta desempenham papel importante na imunidade. Com a pandemia de COVID-19, por exemplo, estudos encontraram resultados relevantes ao relacionar os comportamentos alimentares ao risco de infecção por esse vírus.

Esses estudos trouxeram associações como amamentação e o consumo de café, vegetais e carne menos processada com menores chances de infecção pelo novo coronavírus. E, pensando em sistema imunológico, não é inevitável acreditar que além da COVID-19, outras infecções respiratórias podem surgir com mais facilidade dependendo da dieta praticada.

Segundo o estudo “Global Burden of Disease” de 2015, pneumonia e influenza estão entre as doenças respiratórias que mais causam internações e mortes. No entanto, se fossem conhecidos os fatores que podem modificar o risco de infecção por essas doenças, como a dieta, seria possível minimizar o número de casos e custos na saúde pública.

Considerando esses estudos, uma pesquisa utilizou um banco de dados com mais de 500 mil participantes, incluindo adultos e idosos, para investigar se as associações citadas para COVID-19 são específicas para essa doença ou se estendem para outras infecções respiratórias.

alimentação e risco de infecções respiratórias

Fonte: Canva

Banco de dados e avaliações

O banco de dados usado foi o UK Biobank (UKB) que incluía pessoas entre 37 e 72 anos de idade de 22 centros de saúde da Inglaterra, País de Gales e Escócia. Os participantes desse estudo foram avaliados fisicamente, através de exames de sangue e por medidores de saúde e risco entre 2006 e 2010 e aceitaram continuar um acompanhamento de saúde após esse período.

Desses participantes foram recolhidos os dados de diagnóstico de pneumonia e influenza entre a data de realização do exame inicial até 31 de dezembro de 2019 para que não houvesse efeitos da COVID-19 e das medidas adotadas pela saúde pública. Também foram avaliados diagnósticos de COVID-19 entre 16 de março e 30 de novembro de 2020.

A ingestão habitual de 17 alimentos pré-selecionados foi coletada através de um QFA no exame inicial. Os participantes também foram solicitados a responder se sim ou não, ou se não sabiam dizer se foram amamentados quando bebês. A genética e tipo sanguíneo deles também foram avaliados.

Dieta e genética na pneumonia, influenza e COVID-19

Dos 502.633 participantes do UKB, foram selecionados 335.205 participantes para a amostra de análise principal (pneumonia/influenza) e 26.919 participantes para a amostra de análise COVID-19. Após 11 anos de acompanhamento, 18.738 participantes (3,98%) tiveram pelo menos um diagnóstico de pneumonia e 1120 participantes (0,24%) tiveram pelo menos um diagnóstico de influenza.

As chances de pneumonia foram menores em 6-9% ao consumir 1-3 xícaras de café/dia (vs. <1 xícara/dia), 8-11% ao consumir mais de 1 xícara de chá/dia (vs. <1 xícara/dia); 10-12% ao consumir mais peixes gordurosos e 9-14% ao consumir mais frutas, sendo que esta última associação apresentou-se mais evidente em mulheres do que em homens. Em contrapartida, as chances de pneumonia foram 9% maiores para os indivíduos que tinham ingestão elevada de carne vermelha.

Relação dieta-risco foi semelhante para influenza e COVID-19, porém, a genética apresentou maior efeito na COVID.  Indivíduos com tipo sanguíneo A ou AB apresentaram maiores chances de infecção por COVID-19 do que aqueles com tipo sanguíneo O.

Afinal, a dieta aumenta o risco de infecções respiratórias? 

O consumo de café, chá, peixe gorduroso e frutas esteve significativamente associado a menores chances de ter pneumonia, influenza e COVID-19. Enquanto o consumo de carne processada e carne vermelha foram associados a maiores chances de ter essas doenças.

Essa associação tem grande relação com a composição desses alimentos que possuem nutrientes com atividade anti-inflamatória, anti-bacteriana e anti-viral como é o caso das catequinas, teflavinas e teanina do chá; do ácido clorogênico, diterpenos e dos produtos da reação de Maillard do café preparado; do EPA e DHA dos peixes gordurosos e das vitaminas, folato, fibras e fitoquímicos das frutas.

Portanto, os autores concordam que um consumo balanceado desses alimentos pode contribuir para uma redução dos riscos de infecções respiratórias, mas afirmam a necessidade de mais investigações sobre outras doenças do trato respiratório que vão além da pneumonia e influenza.

Referência

Vu T-HT, Van Horn L, Achenbach CJ, Rydland KJ, Cornelis MC. Diet and Respiratory Infections: Specific or Generalized Associations? Nutrients. 2022; 14(6):1195. https://doi.org/10.3390/nu14061195

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