Bioimpedância – Valores de referência e interpretação de resultados

Postado em 30 de junho de 2022 | Autor: Natália Lopes

A bioimpedância fornece estimativas rápidas, fáceis e relativamente baratas de medidas corporais.

Avaliar as mudanças na composição corporal é imprescindível no acompanhamento do estado nutricional dos indivíduos, além de ajudar a prevenir e tratar doenças. A Bioimpedância Elétrica (BIA) é um dos métodos mais usados atualmente para determinar e analisar a composição corporal dos indivíduos. Continue lendo para se aprofundar na técnica.

Bioimpedância

Fonte: Noiel/shutterstock.com

Bioimpedância Elétrica: como funciona?

A Bioimpedância Elétrica (BIA) é usada para prever a composição corporal com base nas propriedades condutoras elétricas do corpo, e envolve a medição da impedância (Z) ao fluxo de uma corrente elétrica baixa (800 μA). O dispositivo BIA pode ser de frequência única (50 kHz), ou multifrequência, quando é utilizada uma ampla faixa de frequências (5 a 1000 kHz).

O princípio da bioimpedância é que o tecido magro, composto por água e eletrólitos, é um bom condutor elétrico, enquanto o tecido gorduroso, que não possui água, é um mau condutor. Assim, a BIA pode fornecer estimativas rápidas, fáceis e relativamente baratas de composição corporal.

Atualmente, existem diversos dispositivos para a realização da bioimpedância, com quatro principais tecnologias, sendo elas: corpo a corpo, pé a pé, pé a mão e segmentar direto.

Geralmente, nas tecnologias corpo a corpo, pé a pé e segmentar direto, os resultados da composição corporal são emitidos diretamente do dispositivo e os procedimentos não dependem da experiência do operador. A análise se dá pelo ângulo de fase ou pela análise vetorial (BIVA).

Em contrapartida, os dispositivos “pé a mão” (referência de BIA em humanos) fornecem dados brutos, e o operador deve inseri-los em equações de regressão que incluem estatura, idade e sexo para estimar os resultados de composição corporal.

Bioimpedância

Fonte: MCCARTHY, 2021.

 

Como interpretar os resultados da Bioimpedância?

Abaixo, entenda as informações fornecidas pela Bioimpedância e como interpretá-las.

A) Massa óssea

Indica a quantidade de osso (nível de minerais dos ossos, cálcio e outros minerais) no organismo. A tabela abaixo indica a quantidade óssea desejada em relação ao sexo e peso. Massa óssea abaixo do desejável, principalmente em pacientes idosos, é indicadora de doenças como osteoporose e sarcopenia.

SexoPeso corporalMassa óssea desejável
Mulheres< 50 kg1.95 kg
50 a 74 kg2.4 kg
> 75 kg2.95 kg
Homens< 65 kg2.65 kg
65 a 94.9 kg3.29 kg
> 95 kg3.69 kg

Vale salientar que a BIA não é o equipamento de referência para avaliação de massa óssea, então, a qualquer sinal de alteração, o ideal é que o paciente seja submetido a um exame de densitometria óssea.

B) Massa Celular Corporal (BCM) 

Corresponde à somatória de células de músculos lisos, sistema muscular esquelético, órgãos internos, músculos cardíacos, sangue, trato gastrointestinal, sistema nervoso e glândulas. É usada para estabelecer a necessidade calórica e para avaliar o consumo de energia do indivíduo, além de servir para análise do estado nutricional.

C) Massa Extracelular (ECM)

Termo para a massa corporal magra que existe fora das células do BCM. Pele, elastina, colágeno, tendões, ossos e fáscias são as estruturas de tecido conjuntivo estabelecidas da ECM.

D) Água corporal total (TBW)

Em mulheres, a  faixa normal para água corporal varia de 45 a 65%. Para homens, de 50 a 65%.

Em relação à distribuição da água corporal, as faixas normais são de 43% de água extracelular (ECW), correspondendo à água transcelular, intersticial, linfa e plasma; e 57% de água intracelular (ICW).

E) Massa magra ou Massa livre de gordura (FFM)

A massa magra é o termo que define em sua totalidade ECM e BCM, ou seja, toda massa do corpo que não tem gordura. A massa corporal magra contém cerca de 73% de água.

A porcentagem de células BCM na massa magra avalia a condição física e nutricional de um corpo. Valores normais de BCM proporcional à massa magra estão na faixa de 53 a 59% para homens e 50 a 56% para mulheres (18 a 75 anos). Porcentagens de células abaixo desses valores (sem edema visível) podem ser indicadores de desnutrição e distrofia muscular.

F) Massa de gordura (FM ou BF)

Corresponde ao teor de gordura do organismo em relação ao peso do próprio corpo. Os gráficos abaixo indicam as porcentagens de gordura corporal em adultos e seus resultados em relação ao sexo e idade.

Bioimpedância

Fonte: GALLAGHER, 2000; Tanita.

G) Gordura visceral

Consiste na massa adiposa existente na cavidade abdominal interna e que contorna os órgãos vitais na área abdominal. Ao garantir níveis saudáveis de gordura visceral, tem-se uma redução do risco de doenças como hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2. Os intervalos de risco para essas doenças são determinados da seguinte forma:

  • Entre  1 a 4: paciente saudável.
  • Entre 5 a 8: risco médio.
  • Entre 9 a 12: risco elevado.
  • 13 a 59: risco muito elevado.

Importante destacar que essa variável não é fornecida por todos os equipamentos de BIA.

H) Idade metabólica

Quando a idade metabólica fornecida pela bioimpedância é maior que a idade real do paciente, o funcionamento do metabolismo está prejudicado. A maior prática de exercício conduzirá à produção de tecido muscular saudável, resultando na melhoria da idade metabólica.

I) Taxa metabólica basal

Corresponde ao nível mínimo de energia que o corpo necessita em repouso para poder funcionar em perfeitas condições. Essa medida influencia diretamente em cálculos como Gasto Energético Total (GET), e para estimar a necessidade calórica diária dependendo do objetivo.

 

Leia também:

Dobras cutâneas na avaliação de composição corporal

Atividade física determina composição corporal ao longo da vida

Equações derivadas de bioimpedância para crianças e adolescentes

Avaliação nutricional: o que é e como aplicar?

 

Referências:

Bioelectrical Impedance Analysis (BIA) and Body Composition Analyse. BioScan.

CAMPA, Francesco et al. Assessment of body composition in athletes: A narrative review of available methods with special reference to quantitative and qualitative bioimpedance analysis. Nutrients, v. 13, n. 5, p. 1620, 2021.

GALLAGHER, Dympna et al. Healthy percentage body fat ranges: an approach for developing guidelines based on body mass index. The American journal of clinical nutrition, v. 72, n. 3, p. 694-701, 2000.

Herbalife Nutrition. Análise Corporal – Elementos de Referência – Tanita.

KURIYAN, Rebecca. Body composition techniques. The Indian journal of medical research, v. 148, n. 5, p. 648, 2018.

KYLE, U. G.,SCHUTZ, Y., DUPERTUIS, Y. M., & PICHARD, C. Body composition interpretation. Contributions of the fat-free mass index and the body fat mass index. Nutrition, v. 9, n. 7, p. 598, 2003.

MUNOZ, Nancy; BERNTEIN, Melissa. Nutrition Assessment Clinical and Research Application. Jones & Bartlett Learning. Burlington MA, 2019.

SILVA-FILHO, A. A. et al. Utilização da bioimpedância para avaliação da massa corpórea. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina: Projeto Diretrizes, 2009.

Tanita Corporation of America Inc. Body Fat Ranges

Leia também



Cadastre-se e receba nossa newsletter