Qual é a recomendação de lipídios para pacientes em terapia nutricional enteral?

Postado em 20 de setembro de 2022 | Autor: Redação Nutritotal

De modo geral, os lipídios devem representar 20 a 35% das calorias da dieta enteral.

A Terapia Nutricional Enteral (TNE) é uma estratégia terapêutica importante para pacientes hospitalizados, com papel na manutenção e recuperação do estado nutricional.

Na composição das dietas enterais, os lipídios se incluem como requisitos fundamentais para suporte calórico, auxílio na absorção de vitaminas, dentre outros benefícios para a saúde dos pacientes.

Lipídios para pacientes em terapia nutricional enteral

Foto: Shutterstock.com

Para determinar a composição de lipídios das fórmulas enterais, são seguidas as recomendações de órgãos de referências, tais como BRASPEN, ESPEN e ABRAN. A seguir, você irá conhecer as orientações vigentes no que diz respeito à recomendação de lipídios na terapia de nutrição enteral.

Recomendações gerais

A depender do contexto de saúde de cada paciente, a composição lipídica das fórmulas enterais pode variar de 2 a até 45% das calorias totais. Nas fórmulas enterais padrão, a composição de macronutrientes são estabelecidas visando as recomendações para pessoas saudáveis. Sendo assim, o conteúdo de lipídios pode seguir as recomendações de diferentes instituições.

Para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/OMS), sugere-se o consumo de 15 a 35% de lipídios em relação à ingestão energética total. Além disso, no máximo 10% das calorias diárias devem ser oriundas de ácidos graxos saturados, diminuindo para 6% em caso de doença cardíaca.

Já a American Heart Association (AHA) orienta o consumo lipídico em torno de 25 a 35% do valor energético total (VET), de modo a diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. Ainda, sugere-se que menos de 7% do consumo deve advir de gordura saturada, e menos de 1% para gordura trans.

Mais especificamente para a terapia nutricional, os órgãos de destaque recomendam que os lipídios devem representar 20 a 35% do VET da dieta, ou ainda 1 a 2,5 g/kg/dia (orientando não ultrapassar para minimizar complicações metabólicas).

Recomendações de lipídios para condições específicas

Em alguns casos, a fórmula enteral padrão não é condizente com as condições clínicas, nível de estresse metabólico e estado patológico do paciente atendido. Nessas situações, são oferecidas fórmulas enterais especializadas, com composição específica de macronutrientes.

Infelizmente, ainda há uma carência de dados sobre o caráter lipídico recomendado na composição nutricional de dietas enterais, para indivíduos com determinadas patologias. Muitas publicações e diretrizes focam no conteúdo proteico, e as orientações para carboidratos e lipídios não são contempladas.

Ainda assim, na tabela a seguir encontram-se algumas orientações para o oferecimento de lipídios em fórmulas enterais especializadas, para certas condições.

Condição Recomendações específicas para lipídios em TNE Diretriz
CâncerUso suplementação com ácidos graxos n-3 de cadeia longa ou óleo de peixeESPEN, 2021
Diabetes Mellitus0,7 a 1,5 g/kg/diaBRASPEN, 2020
Tratamento intensivo≤ 1,5 g/kg/dia

Uso moderado de ômega-3

ESPEN, 2019
Crianças em TN0 a 12 meses: 30 a 31 g/kg/dia

Demais idades: 25 a 40%

AMB, 2011
Prevenção de doenças cardiovascularesLipídios totais: < 30%

Gorduras saturadas: ≤ 10%

MUFA: 10 a 15%

PUFA: < 10%

Colesterol: < 300 mg/dia

Ácidos graxos na nutrição enteral

A composição lipídica das dietas enterais deve conter ácidos graxos (AG) essenciais e não essenciais.

AG não essenciais

Para os ácidos graxos não essenciais, são utilizados AG monoinsaturados, e triglicerídeos de cadeia média (TCM) como fonte de AG saturados.

O uso de TCM ao invés de triglicerídeos de cadeia longa (TCL) justifica-se pelo fato de possuírem menor peso molecular, maior hidrossolubilidade, melhor absorção, biodisponibilidade e digestão, e transporte ao fígado facilitado.

AG essenciais

Em relação aos ácidos graxos poli-insaturados, estes podem ser advindos do ômega-6 ou ômega-3.

Para o ômega-6, a recomendação é que se ofereça 10 a 17 g/dia de ácido linoléico (2 a 4% do VET). Ele auxilia na manutenção da  pele  e  proteção  contra  feridas e infecções, mas seu excesso pode comprometer a evolução clínica de certos pacientes devido ao aumento da síntese de eicosanóides pró-inflamatórios e intensa peroxidação lipídica.

Já para o ômega-3, sugere-se o oferecimento de 0.9 a 1.6 g/dia de ácido alfa-linolênico (0,25 a 0,5% do VET). Seus benefícios são diversos, incluindo alívio de dor, redução nos níveis de triglicerídeos, diminuição da pressão sanguínea em hipertensos, prevenção de enfermidades cardiovasculares, inibição da proliferação de linfócitos e produção de anticorpos.

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Fontes lipídicas

Para o fornecimento de lipídios nas dietas enterais, uma variedade de óleos podem ser utilizados, sendo eles:

  • AG monoinsaturados: óleo de oliva e canola;
  • TCM: emulsões contendo triglicerídeos de cadeia média;
  • Ômega-6: óleos de soja, açafrão, milho e girassol;
  • Ômega-3: óleo de peixe.

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Referências

BOLOGNESE, Marciele Alves et al. Nutrição enteral com ênfase na composição lipídica: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, p. e506101523178-e506101523178, 2021.

CARDOSO, Maria Gabriela Castro; PRATES, Sarah Morais Senna; ANASTÁCIO, Lucilene Rezende. Fórmulas para nutrição enteral padrão e modificada disponíveis no Brasil: Levantamento e classificação. Braspen Journal, 2018.

COPPINI, L. Z. et al. Recomendações Nutricionais para adultos em terapia nutricional enteral e parenteral. Projeto Diretrizes. Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Associação Brasileira de Nutrologia. São Paulo, 2011.

DIAS, Débora Borges; ALVES, Thaisy Cristina Honorato Santos. Avaliação do perfil lipídico de fórmulas enterais utilizadas em um hospital filantrópico de Salvador-BA. Revista da Associação Brasileira de Nutrição – RASBRAN, v. 10, n. 1, p. 22-30, 2019.

Bibliografia (s)

American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. The A.S.P.E.N. Nutrition support core curriculum: a case-based approach—the adult patient. 2007. ISBN # 1-889622-08-7.

 

American Heart Association Nutrition Committee, et al. Diet and lifestyle recommendations revision 2006: a scientific statement from the American Heart Association Nutrition Committee. Circulation. 2006;114(1):82-96.

 

Torrinhas RSMM, Campos LN, Waitzberg DL. Gorduras In: Waitzberg DL. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. São Paulo: Atheneu. 2009. p 121-47.

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