Nesta pesquisa polonesa, a fixação pela alimentação saudável de fato se refletiu em melhores padrões alimentares - mas até onde isso é positivo?
A ortorexia é o distúrbio alimentar caracterizado pela fixação patológica por alimentos saudáveis, que prejudica o bem-estar do indivíduo acometido. Algumas pesquisas indicam que o alto nível de conhecimento nutricional pode estar relacionado à ortorexia, tendo em vista a alta prevalência desta condição em estudantes da área da saúde.
Neste sentido, um novo estudo realizado na Polônia buscou determinar a qualidade da dieta e o conhecimento nutricional entre jovens com tendência ortoréxicas. Será que esses fatores se correlacionam com o distúrbio? Continue lendo para descobrir.
Quais são os sintomas da ortorexia?
Em primeiro lugar, os autores caracterizam os comportamentos típicos da ortorexia, que, apesar de não ser oficialmente descrita como uma doença ou problema de saúde pelo Código Internacional de Doenças (CID), vem ganhando espaço na literatura nos últimos anos.
Sendo assim, alguns dos principais sintomas descritos na ortorexia são:
- Fixação obsessiva por alimentos “limpos” e “saudáveis”;
- Limitar/excluir alimentos industrializados, não orgânicos, não sazonais e/ou geneticamente modificados;
- Limitar/excluir alimentos considerados “não saudáveis”, como aqueles ricos em sódio ou açúcar;
- Sentir-se moralmente superior àqueles que comem alimentos “não saudáveis”;
- Planejar e/ou preparar a alimentação com bastante antecedência;
- Violações das regras alimentares são punidas com restrições intensas ou jejum;
- Sentimento de culpa ou vergonha ao desviar da dieta ideal;
- Isolamento: negligência à vida social e relacionamentos interpessoais;
- Evitar comer fora;
- Perfeccionismo, ansiedade e necessidade de controle.
Metodologia: 473 participantes foram analisados
Para verificar a relação entre qualidade da dieta, conhecimento nutricional e ortorexia, os pesquisadores recrutaram 473 jovens adultos poloneses, entre 18 a 35 anos. Como ferramenta de pesquisa, foram utilizados os questionários ORTO-15 adaptado, KomPAN e EAT-26.
O questionário ORTO-15 investigou a intensidade do comportamento ortoréxico, referindo-se aos aspectos cognitivos e emocionais ligados à alimentação, bem como aos sintomas clínicos da ortorexia. O questionário KomPAN, por sua vez, investigou a qualidade da dieta e o nível do conhecimento nutricional.
Ao final da aplicação dos questionários, os autores puderam caracterizar os indivíduos em quatro grupos distintos:
- G1 – Risco de comportamento ortoréxico;
- G2 – Tendência ao comportamento ortoréxico
- G3 – Hábitos alimentares adequados;
- G4 – Baixo interesse alimentar.
Por fim, os autores formularam duas hipóteses a serem testadas:
- H1 – pessoas em risco de comportamento ortoréxico são caracterizadas por um maior nível de conhecimento nutricional;
- H2 – a dieta de pessoas em risco de comportamento ortoréxico possui mais características saudáveis e menos características não saudáveis.
A ortorexia foi associada à uma dieta mais “saudável”
Ao final da análise, os autores comprovaram que os jovens com maior risco de comportamento ortoréxico (G1) obtiveram os maiores resultados no índice de dieta pró-saudável. Além disso, o grupo com tendência ao comportamento ortoréxico (G2) obtiveram os menores resultados no índice de dieta não saudável.
Em suma, os grupos com as maiores pontuações para ortorexia consumiam mais produtos saudáveis, e menos produtos “não saudáveis” (tais como produtos de panificação, fast food, frituras, doces, bebidas açucaradas e alcoólicas), comprovando a hipótese H2.
Esse já era um resultado esperado, tendo em vista que a ortorexia envolve uma fixação com a alimentação saudável. Porém, esse comportamento inicialmente bom para o organismo, evolui para uma patologia com consequências de saúde negativas.
Conhecimento nutricional e ortorexia não tiveram relação
Esperava-se que o comportamento ortoréxico se relacionasse ao conhecimento nutricional, uma vez que o distúrbio é fruto do desejo de melhorar a saúde, o que requer um interesse pela nutrição.
No entanto, não houve uma forte associação entre os dois parâmetros: apesar do grupo com risco para ortorexia (G1) possuir um nível de conhecimento satisfatório, este foi semelhante em todos os grupos estudados. Os resultados obtidos, portanto, não confirmaram a hipótese H1.
Os autores sugerem que tal resultado possa estar relacionado às especificidades dos participantes, pois é contraditório ao que diz a literatura anterior.
Conclusão
De modo geral, a pesquisa serviu para corroborar a ideia de que a ortorexia se associa a padrões alimentares (biologicamente) saudáveis. No entanto, as tendências ortoréxicas requerem a adoção de medidas educativas acerca da alimentação verdadeiramente saudável, equilibrada e adequada.
Afinal, como já sabemos, o ato de comer vai muito além da mera ingestão de nutrientes, englobando as dimensões do prazer, da comensalidade, do vínculo social, dentre outros aspectos biopsicossociais.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
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- O que é Ortorexia Nervosa? – Nutritotal PRO
- Ortorexia e a relação com dieta onívora e vegetariana
- Fatores que determinam o comportamento alimentar – Nutritotal PRO
Referência:
KAŹMIERCZAK-WOJTAŚ, Natalia; DROZD, Mariola. Diet Quality and Level of Nutrition Knowledge among Young People with Orthorexic Tendencies. Nutrients, v. 14, n. 20, p. 4333, 2022.
A Redação Nutritotal é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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