Estudo conduzido por Said e colaboradores avaliou a eficácia da perda de peso baseada na…
A dieta baixa em proteínas pode ser uma alternativa à restrição calórica no tratamento destes pacientes.
A Síndrome Metabólica é caracterizada por um conjunto de condições simultâneas (resistência à insulina, obesidade, dislipidemia e hipertensão arterial), que aumentam o risco para diabetes e doenças cardiovasculares. A restrição calórica já demonstrou inúmeros benefícios na Síndrome Metabólica, mas não se sabe ao certo qual nutriente é o responsável por estas melhoras.
Considerando que dietas ricas em proteínas aumentam a mortalidade por DCV, um recente estudo buscou investigar os prováveis benefícios da dieta hipoproteica em pacientes com síndrome metabólica, comparando-os à restrição calórica. Será que os efeitos foram similares? Continue lendo para descobrir.
Metodologia: restrição calórica vs proteica
A pesquisa foi realizada na Universidade de São Paulo, entre 2017 a 2018. Trata-se de um ensaio clínico randomizado de centro único.
Foram recrutados 150 adultos de todos os estados brasileiros, entre 25 a 60 anos. Os critérios de inclusão foram: presença de diabetes tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia. Devido a critérios de exclusão, conflitos na agenda ou motivos pessoais, o número de participantes que concluíram a pesquisa caiu para 21.
Durante 27 dias em ambiente hospitalar, os participantes foram randomizados e submetidos a dois padrões alimentares distintos. As dietas foram elaboradas com tipos de alimentos semelhantes, diferindo apenas na restrição de calorias e na distribuição de macronutrientes, como apresentado na tabela abaixo.
Diminuição de calorias | Carboidratos | Gorduras | Proteínas | |
Restrição calórica (n = 11) | 25% | 50% | 30% | 20% |
Dieta hipoproteica (n = 10) | Nula | 60% | 30% | 10% |
Antes e depois da intervenção, os participantes realizaram avaliações bioquímicas e antropométricas, biópsia de tecido adiposo, sequenciamento de RNA, análise metagenômica, amostragem fecal, dentre outros.
Ambas as estratégias foram eficientes
Em termos gerais, o estudo descobriu que os dois grupos de intervenção se beneficiaram de uma ampla gama de melhorias clínicas, mesmo em um acompanhamento de 30 dias após a pesquisa.
Ao comparar os efeitos da restrição proteica (RP) ou restrição calórica (RC), verificou-se que diferentes parâmetros foram mais ou menos beneficiados por cada uma delas. Confira a seguir.
Alterações antropométricas
O peso corporal foi significativamente diminuído nos dois grupos, mas a redução de peso foi ligeiramente maior em RC (8%) do que em RP (6,6%). As mudanças se deveram principalmente à diminuição da massa gorda, enquanto a massa livre de gordura não foi alterada.
Da mesma forma, RC também promoveu uma redução levemente maior na circunferência de cintura (5%) e circunferência de quadril (3,5%) em relação à RP (2% em ambos).
Melhora dos parâmetros cardiovasculares
A diminuição da frequência cardíaca em repouso foi muito semelhante nas duas estratégias. Em RC, houve uma melhora de 23 bpm (83 para 60), enquanto em RP, essa diminuição foi de 20 bpm (81 para 61).
Além disso, diminuiu-se a pressão arterial sistólica (40,9% em RC e 37,7% em RP) e diastólica (73,7% em RC e 73,2% em RP).
Melhora dos parâmetros bioquímicos
Foram diversos os benefícios bioquímicos notados na restrição calórica e proteica. As seguintes reduções foram notados:
- Glicemia de jejum (52,7% em RC e 56,9% em RP);
- HbA1c (17,5 mmol/mol em RC e 9,2 mmol/mol em RP);
- Colesterol total (34,4% em RC e 35,4% em RP);
- LDL-colesterol (36,9% em RC e 38,6% em RP);
- Triglicerídeos (49,9% em RC e 39,5% em RP);
- Ácidos graxos livres (28,5% em RC e 22,2% em RP);
- PCR (57% em RC e 69,4% em RP);
- CPK (47,7% em RC e 51,1% em RP).
Maior sensibilidade à insulina
A melhora na sensibilidade à insulina foi notável na dieta hipoproteica, com 93,2% de aumento.
Em comparação, os pacientes da restrição calórica também apresentaram um aumento de 62,3% na sensibilidade a esse hormônio.
Dieta hipoproteica: uma alternativa para a restrição calórica
De acordo com os resultados apresentados, a restrição energética foi mais eficaz na perda de peso, diminuição da frequência cardíaca, pressão arterial, HbA1c, triglicerídeos e ácidos graxos livres.
Por outro lado, a restrição proteica teve um melhor desempenho na redução da glicemia, colesterol total, LDL, PCR, CPK e sensibilidade à insulina. Nos demais parâmetros avaliados, seus resultados foram muito semelhantes à restrição calórica.
Sabendo que dietas restritivas em calorias são geralmente relacionadas à baixa adesão, os autores sugerem que a restrição de proteínas é suficiente para mimetizar os efeitos da restrição calórica, sendo até mesmo superior em alguns aspectos.
Por isso, essa seria uma boa alternativa para auxiliar na redução do peso, controle da inflamação, glicemia e pressão arterial de indivíduos com síndrome metabólica.
Para saber mais, clique aqui e leia o estudo na íntegra.
Veja também:
- O que é Síndrome Metabólica?
- Resistência insulínica, síndrome metabólica e diabetes: o que vem primeiro?
- Efeitos da dieta e exercícios físicos em adultos obesos com síndrome metabólica
Referência:
FERRAZ-BANNITZ, Rafael et al. Dietary Protein Restriction Improves Metabolic Dysfunction in Patients with Metabolic Syndrome in a Randomized, Controlled Trial. Nutrients, v. 14, n. 13, p. 2670, 2022.
A Redação Nutritotal PRO é formada por nutricionistas, médicos e estudantes de nutrição que têm a preocupação de produzir conteúdos atuais, baseados em evidência científicas, sempre com o objetivo de facilitar a prática clínica de profissionais da área da saúde.
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