Os hábitos alimentares da infância possuem consequências diretas na vida adulta.
A infância é um período de rápido desenvolvimento, responsável por moldar a saúde e os hábitos das fases posteriores. Por isso, a oferta de uma alimentação adequada é imprescindível para a criação de indivíduos com uma boa qualidade de vida no futuro. Neste artigo, reunimos os principais tópicos acerca da nutrição infantil; continue lendo para conhecer o tema e entender sua importância.
Por que a nutrição infantil é importante?
Na atualidade, dois cenários convivem em conjunto: enquanto uma grande parcela da população infantil apresenta excesso de peso, do outro, casos de desnutrição, anemia e deficiência de micronutrientes ainda persistem.
De modo a mudar essa realidade, intervenções focadas na promoção de uma alimentação infantil saudável são de extrema necessidade, evitando consequências prejudiciais, como o desenvolvimento de doenças crônicas e a mortalidade infantil.
Além disso, é nos primeiros anos de vida que o paladar, os hábitos alimentares e relação com a comida são moldados, produzindo efeitos para o resto da vida. Assim, a nutrição infantil adequada se faz essencial.
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Para os anos de vida iniciais, o “Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos” reúne doze passos chaves para uma alimentação saudável.
Dentre eles, têm-se:
- Amamentação exclusiva com leite materno até os 6 meses de idade;
- Juntamente ao leite materno, introduzir gradualmente outros alimentos in natura e minimamente processados a partir dos 6 meses;
- Antes dos 2 anos, não oferecer açúcar nem alimentos ultraprocessados;
- Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família;
- Entre outros.
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Aleitamento materno: existe leite fraco?
Até os 2 anos, a amamentação através do leite materno é fortemente recomendada, pois este é o único alimento que contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de infecções enquanto ela estiver sendo amamentada.
Assim, previne-se enfermidades como diarréias, infecções respiratórias, leucemia, diabetes, entre muitas outras.
Antes dos 6 meses, a oferta de qualquer outro alimento aumenta o risco de a criança ficar doente e prejudica a absorção de nutrientes do leite materno (como ferro e zinco).
Por fim, ao contrário do que pode ser propagado pelo senso comum, não existe leite fraco. Todo leite materno é adequado, independentemente de seu aspecto, cor ou sabor.
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Alternativas ao aleitamento exclusivo
Em algumas situações, a amamentação é contraindicada. É o caso de mães infectadas por determinados vírus (HIV, HTLV1, HTLV2), sobre uso de medicamentos incompatíveis, tratamento de câncer, e usuárias de álcool ou drogas ilícitas. Além disso, divergências na rotina também podem dificultar o aleitamento.
Para isso, algumas alternativas são possíveis, como o uso de leite de doadoras, fórmulas infantis, ou leite de vaca integral modificado.
As fórmulas infantis representam a melhor alternativa para alimentação de crianças não amamentadas ou parcialmente amamentadas, uma vez que o leite de vaca modificado pode sobrecarregar os rins das crianças nos primeiros meses de vida.
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Introdução alimentar
A partir dos 6 meses, para que a criança se habitue com a variedade, é importante apresentar a ela a maior diversidade possível de alimentos saudáveis (leguminosas, cereais, frutas, verduras, raízes, tubérculos e etc).
Alimentos contendo ferro e vitamina A devem ser amplamente oferecidos, pois a deficiência desses nutrientes é comum em crianças. Carnes, feijão, ovo, verduras verdes escuras e alaranjadas entram nesta indicação.
Por outro lado, alimentos a serem evitados na introdução alimentar incluem aqueles com altas taxas de açúcar, sal e/ou gordura (achocolatados, refrigerantes, cereais matinais, guloseimas, salgadinhos, sorvete, salsicha, etc), e ultraprocessados no geral.
Por último, é importante se atentar para a consistência das comidas, que nos momentos iniciais devem ser amassadas com um garfo. Em seguida, devem evoluir para alimentos picados, raspados ou desfiados, para que a criança aprenda a mastigar, até que ela seja capaz de comer no mesmo formato que o restante da família.
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Suplementação infantil
As recomendações atuais afirmam que todos os bebês amamentados exclusivamente devem ser suplementados com 400 UI de vitamina D por dia, começando alguns dias após o nascimento. A exposição solar também é recomendada.
Os bebês devem continuar tomando vitamina D, a menos que sejam desmamados para 1L de fórmula ou leite integral fortificados com vitamina D, a partir de 1 ano de idade.
Além da vitamina D, nutrientes como zinco, ferro e vitamina A também podem ser estar deficientes na primeira infância. Por isso, cabe um supervisionamento.
Ressalta-se que apenas profissionais de saúde podem prescrever suplementos; portanto, não devem ser dados à criança sem uma orientação especializada.
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Orientações nutricionais infantis nos anos seguintes
Após os dois anos de idade, na fase pré-escolar e escolar, as orientações nutricionais voltadas para crianças devem ser pautadas no Guia Alimentar para a População Brasileira.
Neste sentido, a dieta baseada em alimentos frescos e in natura, incluindo todos os grupos alimentares, deve ser priorizada. Alimentos como feijão, arroz, frutas, legumes, verduras e etc, devem ser ofertados diariamente. O consumo de alimentos ricos em ferro e vitamina A deve também ser continuado.
Leia mais em: Protocolo de uso do Guia Alimentar na orientação infantil
Referências:
DIMAGGIO, Dina M.; COX, Amanda; PORTO, Anthony F. Updates in infant nutrition. Pediatrics in review, v. 38, n. 10, p. 449-462, 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. Brasília, DF, 2019.
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Fascículo 4: protocolos de uso do guia alimentar para a população brasileira na orientação alimentar de crianças de 2 a 10 anos [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
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