Guia de boa nutrição e saúde na fase pré-gestacional

Postado em 11 de julho de 2022 | Autor: Redação Nutritotal

Artigos discutem a importância da boa nutrição e saúde na fase pré-gestacional e seu impacto na saúde futura.

É de conhecimento geral que a saúde na gestação é um fator de grande influência na saúde do bebê, desde sua vida intrauterina até sua fase adulta. No entanto, pouco se fala sobre a saúde dos pais nos momentos que antecedem à concepção, ou seja, na fase pré-gestacional. Além disso, há uma tendência em focar-se apenas na saúde da mulher, omitindo a responsabilidade paterna pela saúde do neonato.

Para mudar esse cenário, a revista The Lancet possui uma série de artigos, intitulada “Preconception health” (Saúde pré-gestacional). Nos materiais, são discutidos diversos fatores envolvidos na saúde de homens e mulheres na fase pré-gestacional, bem como o seu impacto sobre a saúde materna e da criança. Continue lendo para se aprofundar nesta temática.

guia-de-boa-nutricao-e-saude-na-fase-pre-gestacional

Fonte: Canva.com

Em primeiro lugar, o que é a fase pré gestacional?

A fase pré-gestacional (ou período pré-concepção) é geralmente definida como os 3 meses que antecedem a gestação. Contudo, dependendo da perspectiva adotada, esse termo ganha diferentes significados.

De uma perspectiva biológica, a fase é definida como um período crítico que abrange as semanas em torno da concepção, quando ocorre a fertilização madura dos gametas, e o embrião se forma.

Esses eventos biológicos são muito sensíveis a fatores ambientais, como a disponibilidade de macronutrientes e micronutrientes, ou ainda a exposição ao fumo, álcool, drogas e outros. Especialmente o início do desenvolvimento do embrião possui consequências profundas pelo resto da vida, pois as células envolvidas estão totalmente expostas às condições ambientais, sendo vulneráveis a distúrbios de mecanismos epigenéticos.

Já de uma perspectiva individual, o período pré-concepcional começa sempre que um casal decide que quer um bebê, uma vez que o momento exato da concepção é desconhecido. Assim, o período pode durar diversos meses ou até anos, e é necessário que se otimize a nutrição dos pais desde cedo. Para gravidez indesejada ou não planejada, essa perspectiva não se faz presente.

Por fim, do ponto de vista da saúde pública, a fase pré-gestacional está relacionada a um período sensível do curso da vida, com comportamentos ou determinantes de saúde que afetam fortemente. Se ocorre na adolescência, torna-se um assunto ainda mais complexo e delicado.

Quais fatores influenciam a saúde da prole?

O estado de saúde dos pais no período pré-gestacional tem um grande poder de, posteriormente, afetar o desenvolvimento fetal. Uma má experiência de desenvolvimento pode afetar a prole para o resto da vida, incluindo o aparecimento de doenças e comorbidades associadas. A própria saúde materna durante a gestação também pode ser afetada. Mas quais são os fatores principais que exercem essa influência? Confira-os a seguir.

Sobrepeso e obesidade

Nos homens, a obesidade paterna está associada à fertilidade prejudicada, por afetar a qualidade e a quantidade de espermatozóides. O IMC elevado se relaciona à redução da motilidade espermática, ao aumento das anormalidades dos espermatozóides, elevação de EROs no esperma, testosterona sérica reduzida e concentrações aumentadas de estradiol. Além disso, também aumenta o risco de doenças crônicas na prole.

Já nas mulheres, a obesidade materna pré-gestacional se associa a riscos tanto para a prole quanto para a mãe. Efeitos adversos incluem: incapacidade de conceber, complicações da gravidez (como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional), amamentação mal sucedida, anomalias congênitas, alto ou baixo peso ao nascer, morte fetal, obesidade infantil, doenças cardiovasculares e metabólicas no filho, e morte materna.

Desnutrição

Globalmente, a desnutrição materna e suas consequências foi responsável por 3.1 milhões de mortes de crianças por ano e 45% de todas as mortes infantis em 2011. A má nutrição no útero, causada pela desnutrição materna, está associada a riscos aumentados de doenças crônicas, tal como a hipertensão infantil.

Deficiências nutricionais

Dentre as deficiências nutricionais mais comuns em mães, incluem-se as deficiências de vitamina A, folato, vitamina D, cálcio, ferro, zinco, magnésio e iodo. Algumas consequências associadas são a restrição de crescimento fetal, nanismo infantil, aleitamento prejudicado, deficiência mineral óssea, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.

Principalmente a deficiência de folato (vitamina B9) na fase pré-gestacional pode gerar defeitos no tubo neural, que geram um maior risco de aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, autismo, morte fetal e morte neonatal.

Recomendações para a fase-pré gestacional

Tendo em vista os fatores detalhados anteriormente, o cuidado com a saúde e a nutrição de pais e mães no período pré-concepção é fundamental. Assim, algumas orientações foram estabelecidas para indivíduos que desejam ter filhos.

Estilo de vida e adequação do estado nutricional

Estudos de coorte sugeriram que bons padrões alimentares, até 3 anos antes da gravidez, estão associados ao risco reduzido de diabetes gestacional, hipertensão na gravidez e parto prematuro. Sendo assim, a alimentação deve ser caracterizada pela alta ingestão de frutas, verduras, legumes, nozes e peixes, e baixo consumo de carne vermelha e processada.

Além disso, maiores quantidades de atividade física pré-concepção também foram associadas a menor risco de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia.

Embora os benefícios da perda de peso pré-gestacional ainda não tenham sido totalmente estabelecidos, estudos observacionais indicam ​​efeitos como a redução de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro, macrossomia e natimorto.

Engajamento político e social

A desnutrição pré-gestacional não depende somente da vontade dos indivíduos. Por isso, intervenções macrossociais, como programas de transferência de renda e outros movimentos sociais são necessários para mudar o cenário da fome e má nutrição.

Suplementação e fortificação de alimentos

A suplementação de nutrientes deficientes antes da gravidez pode gerar muitos efeitos benéficos. O período de 2 a 3 meses antes da concepção é crítico para otimizar a função dos gametas e o desenvolvimento precoce da placenta. Assim, a suplementação de ácido fólico, por exemplo, pode reduzir o risco de defeitos do tubo neural em até 70%. A oferta de alimentos fortificados pode ser uma boa estratégia para isso, e é atualmente obrigatória em 87 países, incluindo o Brasil.

Outras deficiências devem ser monitoradas e corrigidas o quanto antes, nos momentos antecessores à concepção.

Para ler a série completa “Preconcepcional health”, o Nutritotal PRO disponibiliza os artigos para download a seguir.

Se você gostou deste material, leia também:

Referências

STEPHENSON, Judith et al. Before the beginning: nutrition and lifestyle in the preconception period and its importance for future health. The Lancet, v. 391, n. 10132, p. 1830-1841, 2018.

FLEMING, Tom P. et al. Origins of lifetime health around the time of conception: causes and consequences. The Lancet, v. 391, n. 10132, p. 1842-1852, 2018.

BARKER, Mary et al. Intervention strategies to improve nutrition and health behaviours before conception. The Lancet, v. 391, n. 10132, p. 1853-1864, 2018.

Cadastre-se e receba nossa newsletter